people 3120717 1920Quando estamos em fases da calmaria, o nível do nosso ego (infantil, adolescente ou adulto) em nós, adultos, não interfere demasiadamente na nossa vida pessoal e na vida das outras pessoas. Mas em épocas de crise, como a que estamos vivendo atualmente, isso se reflete, muitas vezes, de forma dramática em relação a nós mesmos e às outras pessoas.

Vamos abordar neste artigo o que significa isso, ou seja, todos nós, adultos, termos uma predominância de um certo nível de ego e, isso independe da nossa idade. Alguns adultos apresentam características ainda infantis como se tivessem permanecido em sua infância até hoje. Outros apresentam características ainda adolescentes e há ainda os que apresentam características realmente adultas, compatíveis com sua faixa etária.

 

Mauro Kwitko

Os adultos que ainda estão fixados em sua infância e, portanto, apresentam características infantis, costumam levar as coisas meio na brincadeira. A vida deles é parecida com um recreio ou uma festa em que o importante é se divertir e ser feliz. Eles não se sentem responsáveis por outras pessoas ou circunstâncias da vida. O divertir-se é o mais importante para eles. Evidentemente, os adultos de ego ainda infantil, em algumas situações ou circunstâncias da vida externam características adultas, pois estão adultos, afinal de contas. Mas em outras, parecem e agem como crianças.

Os adultos que ainda estão fixados em sua adolescência, muitas vezes externam rebeldia, atitudes opositoras e irreverências, que chocam os demais. Mas se são adultos, por que agem assim? Neste caso, são adultos na idade mas, emocionalmente, ainda estão lá na sua adolescência. Em contraponto, todos nós conhecemos adolescentes na idade que são mais maduros, mais conscientes e mais responsáveis do que alguns adultos. Estes denominamos como adolescentes de ego adulto. Mas voltando ao foco deste momento, os adultos de ego adolescente parecem ter menos idade do que realmente têm, na maneira de vestir, de pensar, de agir, de manifestar-se, em suas opiniões e condutas.

Já um adulto de ego adulto é uma pessoa que leva a vida a sério, o que não significa ser serioso. Ele sente que tem um compromisso com sua família, com a comunidade, com seu país e com os outros países. Ou seja, sente-se parte de uma grande família - a Família Humana. Ele sente em seu íntimo que a desigualdade social é algo seríssimo, que a fome é algo trágico, que a miséria é uma vergonha para todos, que as doenças causam dor, sofrimento, morte, que o racismo é algo totalmente absurdo, e que, chegando ao nosso momento atual,  que uma pandemia é algo muito sério e devemos lidar com ela de uma maneira responsável.

Ser um adulto de ego adulto não significa levar tudo a sério o tempo todo, de uma maneira pesada, rígida e inflexível. Isso cria couraças, uma armadura da qual dificilmente conseguimos nos libertar. Ser um adulto de ego adulto significa entender que tem hora para tudo na vida: momentos para ser alegre e feliz como uma criança, momentos para ser sonhador, idealista, futurista, revolucionário (no bom sentido) e momentos para ser adulto!

Esse momento atual da pandemia do novo coronavírus convoca os adultos a externarem o seu ego adulto. Afinal, não é hora de infantilidades ou adolescentices. Um vírus veio nos ensinar o que ainda não aprendemos até hoje. E veio também nos tirar de uma zona de conforto (ou de desconforto, conforme o caso). O vírus veio também mostrar-nos o egoísmo e o egocentrismo exaltado pela tal da modernidade. Ele apareceu para nos lembrar que somos irmãos e que nesse barco não tem rico e nem pobre. Somos todos iguais e também frágeis criaturas em busca da sobrevivência.

Precisamos, nesta fase, que os timoneiros desse barco estejam adultos de ego adulto. Necessitamos que nos mostrem a realidade e nos digam o que devemos fazer e o que devemos evitar. Desejamos que nos conscientizem da gravidade do momento e, ao mesmo tempo que também nos irradiem fé e esperança, aliada à responsabilidade conosco e com os demais ocupantes do barco. Precisamos de timoneiros capacitados que nos levem com seu conhecimento à margem segura desse rio de águas turbulentas, onde estamos navegando atualmente. É preciso que nos mostrem que sabem o que estão fazendo e nos transmitam a sua autoridade (não o seu autoritarismo). Precisamos sentirmo-nos seguros para obedecê-los e para seguirmos as suas determinações, porém é necessário que nos mostrem que entendem do assunto, que estudaram sobre o tema com profundidade, que sabem o que estão falando e que conhecem o rumo que o barco deve seguir para a nossa salvação.

Artigo de opinião escrito pelo presidente da ABPR, Mauro Kwitko.